sexta-feira, 30 de setembro de 2016

ChoRINDO

Sempre assim, Everton Silva

Pedacinhos...

A realidade, quem sabe, ensina pros sonhos o caminho

Como essa frase não sai da minha cabeça, resolvi passá-la pro papel e ir pensando, tento agir com a escrita como procuro agir na vida. Claro que isso oscila, porque os calendários exigem uma ordem, e também porque sou sensível aos dias.

A expectativa sempre nos apronta umas falsetas. Devíamos conhecer alguém e partir do zero sempre. E aí, sim, de acordo com as experiências, as conversas, as viagens, as risadas, os carinhos, os gostos musicais (algo fundamental!), ir aumentando esse placar gradativamente. Mas sempre fazemos o contrário, por conta de todo o clima que muitas vezes se instaura e pela ansiedade da descoberta de algo inédito. Mesmo com os candidatos a amigo, se fôssemos com mais calma, talvez perdêssemos menos tempo com os falsos sinais.

Quando ouvi de um adulto pela primeira vez que o melhor da festa é esperar por ela, cheguei a acreditar. Mas isso também já é adulto demais pra mim. O melhor da festa é a festa, quando ela vem pra valer. Acreditar que o melhor da festa é esperar por ela é como abraçar a decepção e dizer: “eu tinha certeza que você vinha!”.

Tenho expectativas para este domingo. Quero que sejamos bem mais respeitados e realizados como cidadãos. Que a palavra “família” não seja mais usada para segregar, fugindo ao seu destino. Estamos longe do ideal, mas estamos no comando, temos as urnas, e isso tem que ser levado com seriedade, na medida do possível. Precisamos nos conhecer melhor, nos interessar de fato pelo que anda acontecendo em outras vizinhanças.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Deixa cair

Deixe. Deixe tudo desmoronar. Pelo menos hoje, só hoje. Sei lá. Não se preocupe. É tanta cobrança que nem dá para enumerar. Deixe pra lá. As coisas não vão bem, você sabe melhor que eu. A fase não tem sido fácil. Tá foda. Deixe a casa cair. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas vai sim. Já aguentou outras parecidas. Parece que as peças não estão encaixando, parece até que nem existem mais peças para encaixar também. Talvez você não consiga resolver as coisas equilibrando pratos. Deixe que caiam. Todos eles, um por um. Depois você vê o que fazer, depois a gente vê.

Ouça uma música que você gosta de olhos fechados. Relaxe um pouco o seu peito, respire devagar. Pegue um tempo para você, você só tem dado seu tempo para os outros. É que realmente as coisas não vão dar certo sempre. Tipo, vai ter uma ou outra que vai, mas todas, é muito difícil, hein? O que a gente não pode fazer, porém, é deixar uma coisa ruim contaminar as coisas boas. Porque caso sim, isso significa escolher sofrer. É tipo preferir os momentos ruins que os bons. Deixe a casa cair. Fique descalço na sala ou no quarto. Pega um tempinho e separa para o seu coração. Ele trabalha demais. O cérebro também, ele pensa demais. Você não tem errado tanto, mas exige de si mesmo talvez mais do que conseguiria fazer. Deixe esse dia acabar logo. Quando menos perceber, estará com a cabeça no seu colchão, desligando as emoções e renovando as energias.

Deixe a casa cair hoje. Amanhã você reconstrói de novo. Já aconteceu antes, lembra?

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Silêncio!

Ficar no meu canto nāo quer dizer que eu esteja chateado com algo. Acontece que o silêncio é a minha música nos dias tempestivos. É um tempo precioso que uso para organizar o que a rotina e as pequenas tristezas desorganizam dentro de mim. Gosto de ficar em silêncio sem motivos explicáveis. Gosto de ficar sozinho e conversar comigo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Às vezes acho que eu gosto da solidão e do silêncio mais do que deveria. Mesmo ouvindo com frequência que sou estranho ao optar pelo silêncio sem aviso prévio, eu gosto dos meus momentos de quietude. O silêncio é sempre uma conversa com a nossa parte mais madura.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Ê, Velho Chico :(

O moço bonito brincou de cair no rio uma vez, mas era faz de conta, era fábula, o público tava todo esperando ele voltar pra aplaudir de pé, e o autor, com gosto, escreveu que o moço voltava. Só que o moço não resistiu ao encantamento do rio e mergulhou de novo. E o rio, apaixonado, tomou a caneta da mão do autor e abraçou o moço pra ter o espetáculo só pra si.

Ê, Chico, contigo não se brinca mesmo, tu anda maltratado, mas que ninguém duvide da tua força, né, meu véi.

De boca aberta e olhos arregalados. Porque a ficção das ficções não chega aos pés desse mundo que a gente leva a sério. Então, o protagonista também morre? Morre. Na verdade, aqui acontece toda sorte de coisas impossíveis porque acabar, acabar não acaba nunca e a gente vai sendo o personagem dentro do personagem dentro do personagem. Mas, do lado de cá do véu, a gente só enxerga o lado de cá do véu, o lado de cá das cortinas.

E o grande ator se despede deixando o público suspenso numa metalinguagem de dar vertigem. Diacho de vida doida, diacho de vida linda, ficamos aqui, mergulhados todos, numa realidade limitada e mágica. Como no teatro.